ATA DA QUARTA REUNIÃO ORDINÁRIA DA QUARTA COMISSÃO REPRESENTATIVA DA DÉCIMA PRIMEIRA LEGISLATURA, EM 18.01.1996.

 

Aos dezoito dias do mês de janeiro do ano de mil novecentos e noventa e seis, reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às nove horas e quarenta e cinco minutos foi realizada a segunda chamada, sendo respondida pelos Vereadores Artur Zanella, Clovis Ilgenfritz, Dilamar Machado, Geraldo de Matos Filho, Isaac Ainhorn, João Dib, João Verle, Luiz Braz, Luiz Negrinho, Mário Fraga, Reginaldo Pujol, Maria do Rosário, Titulares, e Darci Campani e Fernando Záchia, Não-Titulares. Constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos e determinou que fossem distribuídas em avulsos cópias da Ata da Terceira Reunião Ordinária que, juntamente com as Atas da Primeira e da Segunda Reuniões Ordinárias, foram aprovadas. Do EXPEDIENTE constaram: Ofícios nºs 01/96, do Presidente da Câmara Municipal de Campo Bom/RS, 01/96, do Presidente da Câmara Municipal de Alegrete/RS, 01/96, do Presidente da Câmara Municipal de São José dos Ausentes/RS, 01/96, do Presidente da Câmara Municipal de Santo Antônio da Patrulha/RS, 01/96, do Presidente da Câmara Municipal de Esteio/RS, 01/96, do Presidente da Câmara Municipal de Caxias do Sul/RS, 01/96, do Presidente da Câmara Municipal de Santa Cruz do Sul/RS, 02/96, do Presidente da Câmara Municipal de Rio Pardo/RS, 05/96, do Presidente da Câmara Municipal de São Jerônimo/RS, 32/95, do Presidente da Associação de Administradores, Contadores, Economistas e Estatísticos do Serviço Público Municipal de Porto Alegre, 158/95, da União de Vereadores do Rio Grande do Sul, s/nºs, do Senhor Victor Faccioni e do Senhor Telmo Cardoso Costa; Telegramas: do Senhor Jorge Verardi, do Senhor Maurício Soibelmann, Presidente da Federação Israelita do Estado, do Presidente da Associação dos Dirigentes de Vendas do Brasil/RS, do Deputado Estadual Valdir Fraga, do Presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Estado. À MESA foram encaminhados: pelo Ver. Antonio Hohlfeldt, Ofício comunicando que de dezessete a vinte e cinco de janeiro do corrente ano ausentar-se-á do País para participar de festival de artes cênicas promovido em Santiago do Chile; pelo Ver. Artur Zanella, 01 Pedido de Informações nº 10/96 (Processo nº 163/96); pelo Ver. Fernando Záchia, 01 Pedido de Providências; pelo Ver. Isaac Ainhorn, 01 Pedido de Providências; pela Vera. Maria do Rosário, 02 Pedidos de Providências; pelo Ver. Reginaldo Pujol, 03 Pedidos de Providências; pelo Senhor Prefeito Municipal, Ofício nº 31/95, comunicando a sua ausência e a do Senhor Vice-Prefeito Municipal do próximo dia dezenove até o dia vinte e um de janeiro do corrente ano, quando participarão de reunião do Diretório Nacional do PT em São Paulo, Capital, convidando o Presidente da Casa a assumir a Prefeitura no próximo dia dezenove, às dezessete horas. A seguir, foi apregoada Licença para Tratamento de Saúde do Ver. Henrique Fontana da presente data até o dia seis de fevereiro do corrente ano, dando posse, o Senhor Presidente, à Vera. Maria do Rosário na titularidade da Comissão Representativa. Em COMUNICAÇÃO DE LÍDER, o Ver. Artur Zanella discorreu sobre o fechamento da emergência do Hospital Parque Belém, na Restinga. A seguir, constatada a existência de "quorum", foi iniciada a ORDEM DO DIA. Em Discussão Geral e Votação, após ser discutido pelo Ver. Reginaldo Pujol, foi aprovada a Indicação nº 141/95. Em COMUNICAÇÕES, o Ver. Clovis Ilgenfritz comentou a inauguração da instituição de crédito municipal denominada “Portosol”, tecendo considerações sobre a premência da questão agrária no País. O Ver. Dilamar Machado, discorreu sobre a necessidade de fomento ao cinturão verde de Porto Alegre e de incentivo à produção local, reportando-se à recente entrevista coletiva do Presidente Fernando Henrique Cardoso. O Ver. Isaac Ainhorn discorreu sobre a necessidade de legislação que normatize a institucionalização dos mecanismos de participação popular nas decisões políticas da Cidade, dando ênfase ao Orçamento Participativo. O Ver. Luiz Braz, lembrando a posição do ex-Vereador Vieira da Cunha, comentou os gastos da Assembléia Legislativa com convocações extraordinárias, falando, também, sobre os gastos em publicidade daquele parlamento e do Executivo Municipal de Porto Alegre. Em COMUNICAÇÃO DE LÍDER, o Ver. Reginaldo Pujol comentou a participação do ex-Vereador, hoje Deputado Federal, Jair Soares, em Comissão Especial no Congresso Nacional que discute propostas de reforma do sistema previdenciário, elogiando a competência daquele parlamentar. Às onze horas e seis minutos, constatada a inexistência de "quorum", o Senhor Presidente declarou encerrados os trabalhos, convocando os Senhores Vereadores para a Reunião Ordinária da próxima quarta-feira, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Isaac Ainhorn e Mário Fraga, e secretariados pelo Ver. Geraldo de Matos Filho. Do que eu Geraldo de Matos Filho, 1º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada por mim e pelo Senhor Presidente.

 

 

 

O SR. PRESIDENTE (Isaac Ainhorn): Requerimento de autoria do Ver. Henrique Fontana, solicitando Licença para Tratamento de Saúde de 18.01 a 06.02.1996.

(Foi apregoado Requerimento de Licença do Ver. Henrique Fontana e empossado o Suplente, conforme consta em Ata).

Está com a palavra o Ver. Artur Zanella em tempo de Liderança.

 

O SR. ARTUR ZANELLA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, em nome da Bancada do PDT vim comunicar que ontem, representando a Bancada, estive na Vila Restinga. Lá estavam o Ver. Reginaldo Pujol e o representante do Ver. Henrique Fontana para tratar de um problema que teria a sua solução nada satisfatória no dia 15 (quinze) de janeiro e que foi postergada para o dia 15 (quinze) de fevereiro. Refere-se, Ver. Dilamar Machado, Ver. Mário Fraga, que normalmente andam por lá, Ver. Isaac, ao fechamento da emergência do Hospital Parque Belém que se instalou na Vila Restinga em 1978, 1979, isto é, há quase vinte anos.

Os representantes do Hospital foram absolutamente claros: vão fechar a emergência do Hospital Parque Belém à noite, a partir do dia quinze de fevereiro. Ficaram trinta dias a mais tendo em vista uma série de pedidos desta Câmara, de líderes comunitários, da Secretaria de Saúde do Município, da Secretaria de Saúde do Estado, mas a decisão está tomada, no dia quinze de fevereiro fecha a emergência do Hospital Parque Belém à noite e toda a Zona Sul fica sem atendimento noturno, Ver. Dilamar Machado, inclusive com a Av. do Trabalhador, que foi uma obra do ex-Governador Alceu Collares, pessoas vem até de Alvorada para tratamento à noite no Hospital Parque Belém. A questão não se refere a atendimento ou a problemas, mas refere-se a dinheiro, a recursos. Alega o Hospital que tem sido sistematicamente diminuída a sua participação no atendimento ao SUS. Recebia uma quantia “x” e estão recebendo cada vez menos. Nos últimos dias já chega a 7% menos do que estão recebendo, logo, alegam eles, não têm mais como manter este tipo de trabalho noturno. Então, com vinte e oito dias de antecedência – desta tribuna nós já falamos uma ou duas vezes – nós estamos alertando e lembrando que no dia quinze de fevereiro o Hospital Belém fecha as portas à noite. Ficou acertado que na semana que vem haverá uma reunião com o Governo do Estado, o Governo Municipal, a empresa Hospital Parque Belém e alguns representantes comunitários, e os Vereadores foram convidados, onde deverá haver um acerto de contas, onde deverá haver uma definição: se é verdade que o Município estava pagando a mais para o Hospital e agora cortou, ou simplesmente cortou porque é da Restinga, é para pobre ou seja lá o que for.

Então, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, em nome da Bancada do PDT, nós alertamos que está com uma morte anunciada o atendimento noturno do Hospital Parque Belém, no bairro Restinga, repito, Hospital esse que recebeu um prédio do Município em 1978 ou 1979. Quem assinou este comodato fui eu, como Diretor-Geral do DEMHAB à época, num local que era para ser um centro de cuidados. Nós achamos que mais importante que um centro de cuidados, era o Parque Belém. Ficou lá quase vinte anos sem pagar um centavo de aluguel. Recebe atendimento do Município e do Estado e tem, entre as suas obrigações, o atendimento vinte e quatro horas. Então, se por acaso houver esta diminuição de recursos para a Restinga, se for fechada a emergência na Restinga, que se feche toda a emergência do Hospital, que se tranque todo o pagamento do Hospital, pois não é justo que o morador da Glória tenha uma emergência noturna paga pelo SUS, através da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, mas o morador da Restinga não tenha. Se é para fechar, que se feche tudo. Nós não queremos ficar sem a emergência noturna, porque como bem disseram, lá na reunião, ontem, se é ruim com o Hospital Belém, será muito pior sem ele. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador).

 

O SR. PRESIDENTE: A Mesa registra uma comunicação de viagem do Líder do PSDB Ver. Antonio Hohlfeldt. Em razão de ser membro da Comissão Representativa, o número legal de representantes, que é de dezessete Vereadores, reduz-se para dezesseis. Conseqüentemente, o quórum para ingresso na Ordem do Dia é de oito Vereadores.

 Havendo dez Vereadores presentes, passamos a

 

ORDEM DO DIA

 

DISCUSSÃO GERAL E VOTAÇÃO

 

 

PROC. 2454/95 – INDICAÇÃO Nº 141/95, de autoria da Vera. Maria do Rosário, que sugere ao Senhor Governador do Estado que, através da Companhia Riograndense de Telecomunicações – CRT, seja instalado um telefone público, tipo “orelhão”, no Beco dos Coqueiros, na Av. Vitória, 35 – Creche Jerusalém, limite entre a Rua Ten. Ari Tarragô e Passo das Pedras.

 

Parecer

- da 4ª Comissão Representativa. Relator Ver. Antonio Hohlfeldt: pela aprovação.

 

O SR. PRESIDENTE: Em discussão. O Ver. Reginaldo Pujol está com a palavra para discutir a Indicação nº 141/95.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. A Vera. Maria do Rosário sugere ao Sr. Governador do Estado que, através da Companhia Riograndense de Telecomunicações – CRT, seja instalado um telefone público tipo “orelhão” no Beco dos Coqueiros, Avenida Vitória, 35, Creche Jerusalém, limite entre as ruas Tenente Ari Tarragô e Passo das Pedras. Eu acredito que a descrição oferecida pela Vera. Maria do Rosário sobre o local onde ela pretende a instalação do orelhão, é a mais explícita possível, dentro da síntese que tem que ser uma Emenda. Essa Avenida Vitória, referida no Beco dos Coqueiros, não é uma rua consagrada, não está denominada oficialmente, não existe nos nossos registros na Cidade, como também a localização entre a Tenente Ari Tarragô e Passo das Pedras deve ser, provavelmente, a projetada Avenida Passo das Pedras, a ser construída quando da canalização do Riacho Passo das Pedras que atravessa o nosso Jardim Passo das Pedras. Aliás, aqui do meu lado tem um morador da área que sabe que o Beco dos Coqueiros, além do telefone, precisa de água, de luz, de drenagem, de tudo o mais, inclusive de regularização jurídica. O Beco dos Coqueiros é uma área não definida dentro do urbanismo da Cidade de Porto Alegre, fruto de uma ocupação do desespero dos moradores desta Cidade que não têm onde colocar as suas habitações, dada a ausência de alternativa da política oficial do Município, em termos de habitação popular.

 

O Sr. Artur Zanella: V. Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador). Eu estava vendo a situação difícil que tem o Beco João Dib, ali na Vila Ramos. Está em péssimas condições, com terra, buracos, barro. Gostaria que o Beco João Dib fosse, também, incluído nos pedidos.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Mas o Beco João Dib não está pavimentado, não tem esgoto?

 

O Sr. Artur Zanella: Isso foi feito pela administração da qual eu e V. Exa. participamos, mas, nesse momento, está abandonado.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: É imperdoável que o Beco João Dib esteja nessas condições. Mas, voltando ao assunto que é o Beco dos Coqueiros, quero dizer que uma manifestação como essa da Vera. Maria do Rosário deve ter o meu apoio. O Beco dos Coqueiros merece ter um telefone público. Com toda a honestidade, Vera. Maria do Rosário, eu não sei se é possível colocar um telefone público no Beco dos Coqueiros. Não há nada lá, nem rede de luz. Como vamos colocar um tipo “orelhão” lá? Seria absolutamente adequado que nessas regiões tão marginalizadas houvesse um telefone público, até para que o povo pudesse, telefonando, protestar contra o seu abandono.

Sou a favor da Indicação da Vera. Maria do Rosário. Creio que ela poderá receber, do Governo do Estado, a resposta dizendo da impossibilidade e da inviabilidade técnica do atendimento, mas, mesmo assim, eu apóio como um gesto, para ver se, definitivamente, a Administração Popular se acorda, reconhece a existência dessas áreas da periferia de Porto Alegre, onde o povo está tão sofrido, tão desassistido, tão desatendido, tão carente das mínimas providências da Administração Municipal. Mais do que um orelhão – necessário, mais do que a possibilidade da comunicação – justa – precisam aqueles moradores ter definido, urgentemente, o problema da posse legalizada da sua área, da organização fundiária, do abastecimento de água, da drenagem e, sobretudo, da iluminação. Por isso, Sr. Presidente, ao apoiar a Indicação da Vera. Maria do Rosário, faço esse registro como absolutamente necessário: ajusta-se a Indicação como uma oportunidade para que se faça esse apelo e, ao mesmo, se estabeleça esse protesto. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador).

 

O SR. PRESIDENTE: Encerrada a discussão. Em votação. (Pausa). Os Srs. Vereadores que aprovam a Indicação nº 141/95 permaneçam sentados. (Pausa). APROVADA.

Passamos ao período de

 

 

COMUNICAÇÕES

 

Passamos a palavra ao Ver. Airto Ferronato. Ausente. Antonio Hohlfeldt. Ausente. Artur Zanella. Ausente. Com a palavra, o Ver. Clovis Ilgenfritz.

 

O SR. CLOVIS ILGENFRITZ: Se. Presidente e Srs. Vereadores. Em primeiro lugar eu queria registrar, de forma pessoal, como Vereador da Casa, não em nome da Bancada nem do Governo, que lamento alguns deslizes, algumas omissões, que infelizmente somos obrigados a nos desculpar como membros da Bancada. Ontem tivemos um acontecimento singular, algo que nos enche de orgulho e a Câmara colaborou efetivamente para esse acontecimento que foi a inauguração da entidade comunitária de crédito, que tem o nome de Portosol, que teve origem nesta Casa, através de um projeto deste Vereador, em 1992, depois levado à Prefeitura no fim de 1993, e agora tornado realidade através de uma instituição de crédito. E, eu senti a ausência de alguns Vereadores, e agora fiquei sabendo, pelo Ver. Fernando Záchia, que ele não recebeu o convite. Vamos levar ao Prefeito. É uma falta grave. E outra falta grave que compartilhei ontem com o Ver. Isaac Ainhorn, e junto estava a Vera. Maria do Rosário, líder em exercício da nossa bancada, foi quando o Setor Cerimonial do processo falhou ao esquecer de citar logo no primeiro momento o nome do Presidente da Câmara que se fazia presente prestigiando aquele ato. E mais do que isto, ele foi o Relator do Processo aqui na Casa.

Mas, quero dizer, Ver. Isaac Ainhorn, ilustres Vereadores que se sentiram com o problema, que não houve qualquer problema por parte da Prefeitura, foi um erro de encaminhamento do processo. Tanto é que o Prefeito, como outras autoridades que falaram, referiram várias vezes a importância da Câmara neste projeto e a importância da relatoria do atual Presidente Isaac Ainhorn.

Também senti o problema e estou aqui mostrando que quando a gente erra, nós assumimos, nos desculpamos, pelo menos de nossa parte.

 

O Sr. Luiz Braz: V. Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador). Muitos Vereadores não puderam estar presentes, porque ontem tínhamos aqui uma Sessão Representativa, e às 11h, a hora que estava marcada a inauguração do Portosol, os Vereadores, inclusive esse Vereador, estavam presentes para que a Sessão pudesse continuar.

Acredito que na verdade a Câmara Municipal, cumprindo as suas funções, não pôde comparecer lá. Mas, é claro que alguns Vereadores sacrificaram as suas obrigações e foram até o Portosol.

 

O SR. CLOVIS ILGENFRITZ: O Ver. Pujol certamente não escutou o que falei antes, e certamente vai concordar lendo os anais que foram taquigrafados.

Quero aproveitar o momento para dizer que nós fizemos uma proposta de Moção de Apoio à Reforma Agrária, que tenho certeza a Vereadora Líder vai defender aqui e a idéia era de que ela passasse com o apoio de todos os Vereadores para remeter isso ao Congresso Nacional e em especial ao Ministro da Agricultura e ao Presidente interino do INCRA. Entendemos que essas questões têm que ser encaminhadas.

A Moção diz o seguinte: “A Reforma Agrária precisa ser implantada no País com extrema urgência. A maior parte dos países do Primeiro Mundo, no seu processo de desenvolvimento, realizaram a reforma agrária. No Brasil ainda não. Isso é fundamental para o desenvolvimento do País. A Reforma Agrária não pode continuar a ser tratada como caso de polícia. A falta de providências do Governo Federal está levando o País ao acirramento de conflitos, cujas conseqüências são imprevisíveis. Diante dessa situação a Câmara Municipal de Porto Alegre solidariza-se com as reivindicações dos acampamentos no Rio Grande do Sul, destacando em especial a liberação imediata de alimentação básica, lonas, assistência à saúde e educação aos acampados. Porto Alegre, 17 de janeiro de 1996”. A mensagem vem assinada inicialmente pela Vera. Maria do Rosário, que é Líder, em exercício, do PT.

Nós queremos sugerir aos Srs. Vereadores para que seja um documento unânime, porque pede que haja providências, pois Porto Alegre está sendo palco de um acontecimento que nos entristece, porque a falta de solução, inclusive para os pequenos agricultores, que hoje, felizmente, devem estar olhando e agradecendo aos céus a chuva que está chegando, porque alguns já fizeram o plantio pela segunda vez e pela segunda vez estavam perdendo a safra de milho, soja e outros cereais.

Por fim, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, infelizmente a gente ocupa a tribuna e não tem muitas oportunidades de dizer coisas agradáveis. A rigor nós escutamos e lemos algumas questões colocadas pelo “príncipe monarca” Fernando Henrique Cardoso, e sentimos tristeza ao termos que dizer que ele fez um discurso completamente alienado. É um caso quase que clínico de uma pessoa que faz um alto elogio, de um supernarcisista que vem usar a mídia que está à disposição dele, porque ela quer exatamente o que ele fez, a mídia aliada ao FMI, aliada aos capitais alienígenas e àqueles setores que hoje estão explorando e tentando fazer do Brasil uma reserva técnica em todos os sentidos e com a teoria de mercado que eles estão aplicando, o sistema monetarista que está sendo implementado.

A rigor, o plano deles prevê que 25 a 30% da população tem condições razoáveis ou boas de vida e os outros 80% continuem num processo de servilismo, de escravidão e de exploração e de falta de humanidade, como é o que está acontecendo com o Brasil. Fernando Henrique dizia, desde Ministro da Fazenda, que o único problema do Brasil era a inflação, que o grande problema era estancar a inflação e manter a moeda estável. Hoje ela é praticamente estável, mas os problemas da população aumentaram e ontem, descaradamente, de uma forma irreverente e desrespeitosa, em especial com o imenso contingente da população que está sofrendo as conseqüências da política econômica do Governo, da falta de política, o que é pior, porque a política de estabilização da moeda todos nós achamos que deve existir; o que não pode existir é que isto persista às custas do desemprego, às custas da falta de atendimento à saúde que está sendo sucateada pelo Governo, à falta de uma política de educação que está sendo também o Governo omisso, está deixando que a coisa entre num padrão insustentável. Nós lamentamos o discurso do Presidente da República que, ao invés de nos dar alento, nos cria mais tensão, mais preocupações e nos leva a crer que a unidade dos movimentos progressistas deste País devem aumentar e ter a capacidade de unir os esforços, todos os segmentos sindicais, comunitários, partidários, que discordam desse processo que está implantado e vigorando no nosso País. Fernando Henrique falou como se estivesse morando na Suíça, ou em outro País deste mundo, mas não como brasileiro, até porque ele está mais tempo fora do que aqui.  Obrigado.

 

(Não revisto pelo orador).

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Dilamar Machado está com a palavra.

 

O SR. DILAMAR MACHADO: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. Vou aproveitar o "quorum" mais qualificado desta manhã; ontem, embora muito qualificado, era muito pequeno. E, conversando com os Vereadores presentes, recebi, depois, de parte do Ver. Campani, uma posição que vai ao encontro do que acaba de dizer o companheiro Clovis Ilgenfritz, com relação à necessidade de que se faça neste País, gigantesco, continental, uma reformulação agrária, uma redistribuição das terras cultivadas deste País, são milhões de hectares inaproveitáveis.

Ver. Clovis Ilgenfritz, V. Exa. como arquiteto – como homem que inclusive dirigiu o planejamento urbano da Cidade, durante determinado momento da administração do Partido dos Trabalhadores – sabe que Porto Alegre dispõe, hoje, de aproximadamente 30% de área rural. E fora alguns bolsões, como a Vila Nova e outros pontos de Porto Alegre, Belém Velho, Belém Novo, onde pequenos focos de produção agrícola existem, especialmente na Vila Nova, produção de pêssego, nós não temos em Porto Alegre um planejamento de aproveitamento da área rural. Ontem eu lembrava que a Revista Exame, uma das mais conceituadas deste País, apresentou as dez cidades brasileiras com maior possibilidade de investimento e de retorno para quem quer investir, em função das sua infra-estrutura, da localização geográfica, bacia hidrográfica, transporte, rodovia, etc. Em primeiro lugar ficou a Cidade Mineira de Uberaba, e Porto Alegre não está entre as dez primeiras e não sei qual seria a sua classificação. Agora, a verdade é que aqui na capital gaúcha nós temos milhares de famílias que vêm de onde? Do campo, do interior, onde não tem oportunidade, onde não existe mais nenhum apoio ao pequeno agricultor, aquele que efetivamente produz aquilo que vai para a mesa do trabalhador, o que planta milho, o que planta batata-doce, o que planta cenoura, tempero verde, couve, repolho, rabanete, beterraba, esse não tem mais nenhum tipo de apoio. E para Porto Alegre essas pessoas vêm e acabam morando onde? Na periferia da Cidade, em subabitações, em bolsões de pobreza e de miséria que, segundo a “Vox Populi”, é hoje a grande vergonha nacional. O resultado da pesquisa feita no País sobre: o que o brasileiro tem vergonha? Foi que é da miséria, da fome e da pobreza.

Então, não adianta determinados grupos partidários se auto-intitularem donos do projeto de reforma agrária, quando eles têm a possibilidade de fazer a sua própria reforma agrária.

A pergunta que faço, embora me sinta, neste momento, meio como Jesus Cristo falando no deserto – na realidade, parece que o Ver. Luiz Braz está com uma certa atenção, está entendendo o que eu digo, o Ver. Negrinho também, porque é um homem especializado nas áreas periféricas da Cidade por que não começar, sinceramente, na Cidade, um trabalho de aproveitamento agrário da nossa Cidade?

Ontem foi inaugurado o nosso Banco Municipal Porto do Sol e, pelo que li, e o Ver. Zanella me chamava a atenção, o primeiro empréstimo foi concedido a um comerciante falido que, segundo as próprias declarações dele, vai utilizar os cinco mil reais para pagar dívidas, porque ele está devendo tudo para um agiota. Ora, não é esse o objetivo! Eu votei contra, inclusive, essa instituição, porque a entendia extemporânea, mas eu me submeto à democracia da Casa, a maioria aprovou e aprovado está e eu hoje apoio. Mas, isso não é banco de fomento, instituição de fomento de crédito; é para criar, para produzir microempresas, pequenas oficinas e por que não uma pequena lavoura de hortifrutigranjeiros? A partir da institucionalização do Porto do Sol, essa entidade financeira de fomento, basta pegar, através da Secretaria competente do Município, todo o zoneamento urbano de Porto Alegre. Me lembrava o Pres. Isaac Ainhorn que na área do Saint’ Hilaire, proprietária de 500há na área da Lomba do Pinheiro, também existem muitas áreas, mas não são bem propriedade da Prefeitura, são áreas rurais da Cidade, inaproveitadas. A instituição de hortas para produção de hortaliças não polui, mantém a terra, dá aproveitamento e produtividade à terra, e pode mudar, em pouco tempo, esse quadro trágico, o de termos uma CEASA, e a CEASA é propriedade da Prefeitura também, do Governo do Estado e do Governo Federal, é uma empresa social. Mas o que é hoje a CEASA? É um balcão de passagem dos grandes produtores de São Paulo. A dona de casa que me ouve, compra aquele tomate redondinho, o paulista, além de uma série de produtos que hoje são, inclusive, importados: o alho é importado da China. Mais a couve, o agrião, que vem de São Paulo. A idéia de aproveitamento da área agricultável de Porto Alegre só não é levada a sério se as pessoas não têm interesse de solucionar as questões. A saída para o Brasil é Vereadores, Prefeitos e Governadores pararem de jogar a culpa sempre na União.

É evidente que a questão política-agrária, educacional e de saúde dependem muito do Congresso Nacional e da cabeça do Presidente da República. Concordo com o Ver. Clovis Ilgenfritz; assisti integralmente à entrevista coletiva do Sr. Fernando Henrique Cardoso e disse: ele demonstrou grande capacidade de comunicação. Como comunicador, o Presidente Fernando Henrique Cardoso é excelente, mas há um detalhe: ele fala com a cabeça, com o cérebro, não fala com o coração. Ele não tem no coração o drama do povo brasileiro, especialmente quando se referiu à questão do desemprego e tentou transmitir à população deste País que devemos estar satisfeitos, porque existem outros países em que o índice de desemprego é maior do que o do Brasil. Mas eu com isso? Moro no Brasil! Agora, vão me dizer que na Índia é pior. Mas eu não moro na Índia! O problema da Índia é dos indianos. O problema do Brasil é dos brasileiros; a solução está conosco. Não há situação de maior indignidade humana pessoal do que a pessoa estar desempregada, seja hoje um chefe de família, uma mulher, um jovem, e milhões de brasileiros que estão perdendo o emprego pelo processo de automação das indústrias, pelo enxugamento do dinheiro e pelos juros exagerados. É preciso que nós, através da nossa célula de atuação, passemos a investir naquilo que é possível fazer. O que Porto Alegre, o que o Prefeito Tarso Genro pode fazer pela reforma agrária? Uma coisa que ele pode fazer, e faz, é apoiar, politicamente, a luta daqueles que querem terra para plantar e poder comprar sementes, implementos, tratores, conseguir crédito rural, preço, mercado; e a outra é fazer alguma coisa. Deixo a idéia, mais uma vez, aos companheiros do Partido dos Trabalhadores, para que examinem, junto com a Câmara Municipal, ou criem, quem sabe, um sinal verde da Prefeitura, ou uma comissão que envolva Vereadores e o Executivo, para examinarmos essa questão, através da instituição de crédito Porto do Sol. Cinco mil reais na mão de um homem que entenda da terra, que seja agricultor e que tenha vocação agrícola é muito dinheiro para iniciar uma horta, que pode ser feita em meio hectare ou até menos. Há produtos agrícolas que são produzidos a curto prazo, sendo que em dois ou três meses já estão prontos para o comércio.

Deixo meu pensamento sobre esse assunto nos Anais desta Casa para os Vereadores que quiserem examinar esta questão. Espero que a desatenção da maioria do Plenário não seja a mesma do Executivo. E que o Executivo examine a questão e diga alguma coisa, embora ontem o Ver. Campani já tenha, em parte, concordado com a idéia.

 

A Sra. Maria do Rosário: V. Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador). Vereador, a sua fala de fato instiga a que nós, enquanto Câmara de Vereadores, pensemos nessa matéria, especialmente porque esta Casa tem uma Comissão Externa tratando da questão do desemprego na nossa Cidade. Sem dúvida, existe uma ligação muito íntima entre a situação de desemprego que vivemos. Na região metropolitana temos entre 190 e 200 mil desempregados, segundo a FEE e o DIEESE, dados levantados pela pesquisa de emprego e desemprego realizada no final do ano passado e, sem dúvida, a falta de política agrária do País entra como um dos itens que contribuem para índices tão elevados de desemprego como nós temos na região metropolitana e em todo o País. Mas, uma preocupação em tenho: eu acho, Vereador, que nós temos que dar o apoio político, temos que participar desta movimentação toda, porque os sem-terra e o movimento dos pequenos trabalhadores rurais são quem de fato fazem, hoje, o contraponto e uma resistência a este projeto danoso à Nação, desenvolvido pelo Governo Federal, que é o projeto neoliberal. De outra sorte, nós precisamos estudar, enquanto Município, que iniciativas tomarmos no Município, como diz V. Exa. No entanto, Vereador, a minha preocupação é que nós, enquanto Município, atuemos no sentido de assumir uma parte, de pressionar mais o Governo Federal para que ele assuma determinadas políticas sociais. Eu observo, por exemplo, toda a área de assistência social, de saúde e de educação sendo municipalizada nos últimos anos. E ao mesmo tempo em que estes serviços todos são assumidos pelos municípios de todo o País, a questão tributária permanece colocada num nível de centralização, de concentração de recursos, como nós observamos historicamente até os dias de hoje, em níveis absurdos. Ou seja, os municípios não recebem qualquer apoio para que possam assumir este tipo de programa, assumem somente a partir da sua contribuição e da sua cidadania. Então, não é hora, também, Ver. Dilamar Machado, ao lado de pensarmos, por exemplo, iniciando nesta Comissão contra o desemprego, uma política específica da questão agrária em Porto Alegre, de atuarmos enquanto Câmara numa pressão maior, e Prefeitura também, ao Governo Federal por recursos e programas que, de fato, contribuam com o Município?

 

O SR. DILAMAR MACHADO: Eu agradeço a V. Exa. pelo aparte e concordo com o aparte final. Sempre fizemos isso. Eu só acho o seguinte, Vereadora: o mundo está mudando, e radicalmente mudando, não é só a questão do projeto neoliberal, com o qual, efetivamente, eu não concordo, como não concordo com o próprio liberalismo como pensamento político. Na realidade, o mundo mudou, e ele muda muito rapidamente. E dentro de 10 anos as nossas gerações não terão mais essa expressão “emprego”, isso vai desaparecer, porque é o caminho da humanidade; nós temos é que sair na frente. Citei o exemplo da cidade de Uberaba, não sei quem é o Prefeito, não tive o cuidado de examinar o nome nem o partido político do Prefeito, não sei quem é, mas ele fez esse projeto de Uberaba e uma reforma agrária municipal utilizando a mão-de-obra ociosa daqueles que vieram do campo, e deu, a partir dessa base mínima, o primeiro passo para o progresso da cidade que é hoje considerada, pela revista EXAME, a primeira cidade brasileira para investimentos.

Já existem 3 distritos industriais na cidade, tal é o desenvolvimento em Uberaba. É um exemplo a ser seguido? É. Nós temos que parar de gritar; não adianta ficar gritando; nós temos que dar soluções; nós temos que apontar caminhos. O próprio Presidente da República, ao ver uma cidade como Uberaba, quem sabe amanhã Porto Alegre, deve ficar encabulado, “por que eles podem fazer e eu, que sou Presidente da República, não faço?” De qualquer forma fica a idéia e eu, definitivamente, me alio a quem deseja uma reformulação agrária neste País: assim como está não deve continuar.

Nós temos dois caminhos: ou vamos fazer alguma coisa do ponto de vista administrativo ou vamos decretar ou declarar, definitivamente, uma convulsão social neste País, porque pelos caminhos normais, tradicionais, convencionais, efetivamente, está cada vez mais difícil. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador).

 

O SR. PRESIDENTE (Mário Fraga): Com a palavra o Ver. Isaac Ainhorn.

 

O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, retornamos à tribuna desta Casa para manifestarmo-nos acerca de um tema que julgamos fundamental que seja trabalhado durante este ano e para que o próximo Prefeito eleito no dia 3 de outubro, ou no dia 15 de novembro, caso não tiver a maioria absoluta, assuma a Prefeitura Municipal de Porto Alegre no dia primeiro de janeiro como um instrumento institucionalizado relativo à participação popular nos destinos da Cidade. Estamos insistindo com esse tema porque achamos que a discussão e a definição de uma legislação sobre essa matéria constitui um propósito não só deste Presidente, mas também do conjunto da Mesa Diretora e diria, pelas consultas que tenho feito, de um significativo grupo de Vereadores desta Casa, que acredito seja majoritário, inclusive com alguns companheiros do próprio Partido dos Trabalhadores que entendem que a sobrevivência do Orçamento Participativo depende da sua institucionalização. Esse assunto tem merecido inúmeros debates, manifestações de juristas, de políticos, de homens públicos ligados à vida da Cidade, de intelectuais. Participamos recentemente de um debate onde estava presente o Vice-Prefeito desta Cidade Raul Pont, bem como do jurista Eduardo Carrion, titular de Direito Constitucional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Sustentava o jurista Eduardo Carrion a importância que tem do ponto de vista de garantia dos direitos e da cidadania, a existência de um direito escrito definidor das regras básicas em relação ao Orçamento Participativo e se não houver regras escritas consagradas pelo Poder Legislativo, ele pode servir de instrumento de manipulação político-eleitoral.

Nós temos conhecimento de que nesta Casa tramitam dois projetos, um de autoria do Ver. Clovis Ilgenfritz e outro de autoria do Ver. Nereu D'Ávila. Queremos a discussão e a institucionalização desse instrumento e achamos o seguinte, uma legislação bem feita, consagradora daquilo que já é prática costumeira, diríamos até, um direito costumeiro, não significa, Ver. Campani, necessariamente, um engessamento do Orçamento Participativo, absolutamente. E mais: tenho ouvido que um dos receios da Administração é que, se institucionalizado, Ver. Pujol, o Orçamento Participativo, poderia gerar uma série de demandas judiciais de pessoas e comunidades pleiteando, na justiça, aqueles direitos que não foram atendidos pelo Orçamento Participativo.

Indago desta Casa se existe instrumento mais civilizado que não o recurso ao Poder Judiciário quando os direitos estão consagrados e não são atendidos? Evidentemente que não existe Poder mais consagrado para dirimir as controvérsias entre Estado e cidadãos, ou de cidadãos entre si, que não seja o Poder Judiciário. Ora, se um direito subjetivo está consagrado e não é atendido por quem tem a obrigação de fazê-lo, é óbvio que a busca do Poder Judiciário para assegurar aquele direito é fundamental. Por conseguinte, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, queremos estabelecer esse debate, ele já, inquestionavelmente, ganhou as ruas, chegou aos meios de comunicação social, ouço diariamente manifestações de jornalistas, de Vereadores desta Casa em intervenções sustentando a institucionalização do Orçamento Participativo.

Tenho recebido alguns telefonemas que julgo importantes, de intelectuais reconhecidamente consagrados em nosso Estado e até em nosso País. Recebi recentemente uma manifestação do escritor Décio Freitas, que manifestava o interesse de estudar o assunto e colaborar com esta Casa, na sua condição de intelectual, de um homem que tem história nas lutas sociais e no estudo das lutas sociais do povo brasileiro. Subsidiei-o com algum material da própria Prefeitura, que me foi entregue pelo Prefeito Tarso Genro, para que ele fizesse algumas reflexões sobre o Orçamento Participativo. As manifestações do jurista Eduardo Carrion entendi como fundamentais, sobretudo vindos de um homem do seu escol e da sua competência, reconhecida no Estado e nacionalmente como um especialista na área do Direito Constitucional e também pela sua participação na luta e na história política de nossa Cidade e  Estado.

 

O Sr. Reginaldo Pujol: V. Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador). Vereador, quero antes de mais nada, cumprimentar V. Exa. que toca neste assunto e provocar um salutar debate. Da mesma forma que V. Exa. citou o jurista Eduardo Carrion e também o historiador Décio Freitas, eu ontem tive a oportunidade de receber uma contribuição muito valiosa do Dr. Mauro Pereira Guimarães que fez um estudo muito profundo sobre a gestão participativa que é algo diferente daquilo que está sendo desenvolvido na Cidade de Porto Alegre, onde o Orçamento Participativo é uma verdadeira caixa preta. Ninguém sabe direito o que é esse Orçamento Participativo. Quais as regras que o produz e, sobretudo, o que pretende atingir. Se observa as mais diversas disfunções realizadas pelo chamado fórum – Orçamento Participativo – uma disfunção, absoluta, do que realmente se poderia esperar de uma efetiva participação comunitária na preparação e elaboração de um orçamento verdadeiramente elaborado pela comunidade. Então meus cumprimentos a V. Exa., pois eu tenho restrição a esse tipo de participação comunitária que eu acho que é aparelhada, e as suas propostas têm trazido esse salutar debate aos porto-alegrenses.

 

O SR. ISAAC AINHORN: Eu gostaria de dizer a V. Exa. que este debate nós pretendemos, inclusive, submeter a uma idéia de programa em relação ao Orçamento Participativo, convidando, formando, quem sabe, uma grande estrutura de um conselho de pessoas que venham participar deste debater. A Câmara tem uma instituição que é o Conselho de Cidadãos Eméritos de Porto Alegre que podem ser ouvidos sobre a matéria. Podemos convidar os próprios delegados do Orçamento Participativo e conselhos do Orçamento para vir aqui externar as suas posições sobre o tema. E mais a contribuição desses cidadãos de reconhecido e notório saber jurídico e intelectual que podem municiar e subsidiar o trabalho dos Srs. Vereadores. Eu gostaria ainda de informar a V. Exas. que estarão recebendo no dia de hoje um ofício da Presidência pedindo sugestões de temas e de autoridades em nível de secretariado estadual, para serem encaminhados à discussão da 1ª Jornada Governo do Estado - Câmara de Vereadores, que deverá se realizar no fim do mês de fevereiro ou início de março. Já estamos colhendo junto aos Srs. Vereadores subsídios de temas, bem como sugestões de autoridades que gostariam que viessem aqui, porque a discussão será com a presença do Governador, dos Secretários de Estado, Presidentes de Companhias e os 33 Vereadores desta Casa. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador).

 

O SR. PRESIDENTE: Apregoamos o recebimento de um ofício do Sr. Prefeito Municipal, Tarso Genro, endereçado ao Ver. Isaac Ainhorn. O PDT assume a Prefeitura amanhã. (Lê).

 

“Of. nº 031/GP                         Paço dos Açorianos, 17 de janeiro de 1996.

Senhor Presidente:

Ao cumprimentá-lo respeitosamente, comunico que no dia 19 do corrente, às 11 horas, viajarei à cidade de São Paulo, devendo retornar em 21-01-96. Neste período, estarei participando da Reunião do Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores.

Como o Vice-Prefeito, Raul Pont, também deverá se ausentar do Município pelo mesmo motivo, em conformidade com a Lei Orgânica, convido Vossa Excelência a assumir o cargo de Prefeito Municipal, substituindo o Vice-Prefeito Raul Pont, dia 19-01-96, às 17 horas, no Salão Nobre do Paço Municipal.

Os referidos deslocamentos serão sem ônus ao erário do Município.

Ao ensejo, aceite meus respeitosos cumprimentos.

(a) Tarso Genro, Prefeito”.

 

O Ver. Luiz Braz está com a palavra.

 

O SR. LUIZ BRAZ: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, o ano de 1995 trouxe para nós diversos paradoxos, que continuam em 1996. Eu sou jornalista, além de Vereador. Sou primeiro jornalista e depois Vereador e por isso mesmo sou observador. O então Ver. Vieira da Cunha, quando estava em mandato aqui na Câmara de Vereadores, apresentou um Projeto de Lei para liquidar com o ganho dos Vereadores nas Sessões Extraordinárias. O Ver. Vieira da Cunha contou com o apoio, naquela época, dos Vereadores do PT, mais o apoio do Ver. João Dib e outros Vereadores que não lembro agora quais são, e liquidaram com o ganho dos Vereadores nas Sessões Extraordinárias. Eu até concordo, não tenho nada contra. Só que, agora, com o passar do ano, o Ver. Vieira da Cunha, agora Dep. Vieira da Cunha, não fez uma só menção de devolver o dinheiro que recebeu da Assembléia Legislativa nas Sessões Extraordinárias. Ora, por que o Dep. Vieira da Cunha mudou de idéia? E os Deputados do PT, que antes, quando recebiam as Extraordinárias, iam para a imprensa dizendo que iriam devolver o dinheiro recebido pelas Sessões Extraordinárias porque achavam que aquele dinheiro queimava as suas mãos? Esse dinheiro também parou de queimar as mãos dos Deputados do PT? Os Deputados do PT não fizeram uma só declaração dizendo que iriam devolver os 12 mil reais recebidos lá na Assembléia Legislativa! Aliás, a própria Assembléia Legislativa também é autora de outro paradoxo: qual é o produto que vende a Assembléia Legislativa para ter uma publicidade tão pesada nos meios de imprensa? Eu sou jornalista, eu também vivo de publicidade, porque ninguém vive com o salário que ganha aqui na Câmara Municipal, sabem que é impossível isso. Eu pergunto aos Srs. Vereadores: seria necessário a Assembléia Legislativa patrocinar um programa, por exemplo, na rádio Gaúcha, pela manhã, gastando verbas pesadas? Eu não vejo uma declaração contrária, porque a única argumentação que eu encontro é de que se não colocar dinheiro dentro da imprensa, a imprensa critica o Poder. Ora, estamos invertendo completamente essas funções; o Poder é que deveria ter ascendência sobre os órgãos de imprensa e não os órgãos de imprensa terem ascendência sobre o Poder, assim como têm atualmente. Bem, esse é um paradoxo que registro aqui.

O outro, Ver. Reginaldo Pujol, é com relação ao chamado nepotismo. Ontem, o Tribunal de Justiça concedeu mais uma liminar garantindo o trabalho daqueles que são funcionários mas parentes também dos Juizes de Alçada e de outras pessoas vinculadas ao Tribunal. O próprio Tribunal de Justiça deu uma liminar. V. Exa. sabe que toda essa discussão surgiu de um membro do Tribunal de Justiça que estava se aposentando e que, de repente, resolveu levantar esta questão do nepotismo. A questão votada na Assembléia Legislativa surtiu efeito inicial e, de repente, o próprio Tribunal de Justiça, agora, através dessa liminar, parece que começa a se insurgir contra alguma coisa que nasceu dentro do próprio seio do Tribunal. Para justificar esse paradoxo que trago à tribuna, vou para o Congresso Nacional. Lá no Congresso Nacional nós temos a Comissão da Previdência, que é presidida pelo Deputado Jair Soares, colega de V. Exa., Ver. Reginaldo Pujol, dentro do PFL; foi colega nosso na Câmara Municipal. o Deputado Jair Soares está presidindo uma comissão que quer acabar com aposentadorias especiais, entre outras coisas.

Ontem eu ouvia que, de acordo com o entendimento que surgiu com as centrais de trabalhadores, vão terminar com as aposentadorias especiais de senadores ou, pelo menos é a proposta que surgiu, de deputados, de vereadores. Esta Câmara, orgulhosamente, garbosamente, pode dizer que não será, de forma alguma, atingida por qualquer medida desse tipo, já que os Vereadores desta Casa não têm direito a qualquer tipo de aposentadoria. Nós também concordamos com a medida. Só que se nós formos analisar o Presidente da Comissão, o ex-Vereador, o ex-Governador, o ex-Deputado federal, nós vamos ver que boa parte de sua renda vem de aposentadoria especial. Ele ganha aposentadoria especial como ex-Governador, deve ganhar, também, como ex-Deputado federal, agora não, porque ele está em mandato. Ele, que preside uma Comissão que pretende terminar com as aposentadorias especiais, tem boa parte de seus recursos advinda dessas aposentadorias especiais.

Então, são paradoxos que nós notamos, nessa passagem desse ano de 1995 para o ano de 1996. E, para terminar, Ver. Reginaldo Pujol, esses paradoxos, nós temos um Orçamento na Cidade. A proposta de Orçamento que foi discutida por nós aqui nesta Câmara dizia o seguinte: o ICMS não teria nenhum aumento. Essa afirmação, vinda do Executivo Municipal, nos assustou, porque vivíamos no meio de uma campanha, a “Paguei, quero nota”, e nós pensávamos em para onde iria o dinheiro. Não aumentaria a arrecadação do ICMS, não traria nenhum benefício para a Cidade? Somente as emissoras de rádio e televisão teriam ganho com a campanha “Paguei, quero nota”? Tenho, hoje, uma informação do Joabel Pereira, no “Correio do Povo”: “Aumentou a arrecadação do IPTU em 1995. Secretário Arno Augustin espera crescimento também neste ano”. Claro que sim, se houve aumento em 1995, o aumento deve continuar em 1996.

V. Exas. devem estar lembrados de que, quando votamos o Orçamento e aumentamos o IPTU, um dos argumentos para o aumento do IPTU era, exatamente, o decréscimo do ICMS. Ora, se vamos ter acréscimo no ICMS, imaginem que a arrecadação prevista para Porto Alegre neste ano de 1996 deve ser superada em muito até porque uma outra nota, do mesmo jornalista, também no “Correio do Povo”, diz que “a receita do ISSQN em Porto Alegre supera a arrecadação do IPTU em 30 milhões, reflexo da terceirização dos serviços”.

Vê-se que na proposta orçamentária, quando o IPTU recebeu um aumento, infelizmente votado e aprovado nesta Casa, o argumento usado foi de baixa do ICMS também em 1995. E temos aqui um aumento registrado por um jornalista que tem um contato muito bom com o próprio Secretário da Fazenda. São grandes os paradoxos! Ainda bem que esses últimos vêm beneficiar a Cidade, porque a Cidade vai arrecadar mais, mas acredito que ele vem em prejuízo do contribuinte porque ele vai pagar mais a fim de que a Cidade possa arrecadar mais. Eu mesmo vou pagar bem mais de IPTU em 1996 do que  em 1995. O meu IPTU de 1996 traz um aumento de pelo menos 50% em relação a 1995 quando, na verdade, o que dizia a Bancada petista na ocasião em que votávamos aqui o Orçamento é que o aumento não iria passar de 2 reais, e coisas assim. Ora, os 2 reais argumentados pela Bancada petista foram bastante ultrapassados.

Mas vamos esperar que a oposição desta Casa aprenda a trabalhar, fazendo com que a situação possa respeitá-la um pouco mais. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador).

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Reginaldo Pujol, em tempo de Liderança.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. Se esta Casa gastasse em publicidade, se seguisse o exemplo da Administração Popular ou da Assembléia Legislativa do Estado e inundasse a imprensa com esse volume enorme de propaganda paga com o dinheiro público, certamente o discurso do Ver. Luiz Braz seria manchete amanhã, intitulado, provavelmente: “Braz abre a metralhadora giratória e inicia a campanha de Valdir Fraga à Prefeitura de Porto Alegre”.

Porque o Ver. Luiz Braz, um homem competente, qualificado, distribuiu abraços e beijos para todos os lados. Sobrou, inclusive para o Dep. Jair Soares, que é presidente de uma comissão que não pretende fazer isso ou aquilo. A comissão analisa as propostas que lhe são encaminhadas. E devo dizer, a bem da justiça, e não sou eu que assim o faço, é unanimidade nacional, o Dr. Jair Soares tem sido, na presidência dessa comissão, de uma competência, de uma dignidade, de uma postura por todos reconhecida, especialmente porque a proposta originária do Governo Federal era catastrófica, confundia alhos com bugalhos, misturava situações diversas, a pretexto de combater aposentadorias ditas superaposentadorias, chamadas do marajanato nacional, essas que ensejam aos aposentados cerca de 120 mil dólares por mês de aposentadoria. A pretexto de mexer nisto, mexia nas coisas mais elementares e acabava tendo mais reflexos na gama de aposentados da Previdência Social, propriamente dita, esses que ganham 900 reais por mês e que seriam prejudicados se mantida aquela orientação inicial, que a proposta governamental continha e que o trabalho do Deputado Jair Soares, do Deputado Euler e de tantos outros, que fazem parte dessa Comissão, criaram uma resistência tal, que hoje já se divisa um quadro nacional bem diferente com as negociações que avançaram junto com as centrais de trabalhadores.

A colocação de que o Deputado Jair não tenha condições de realizar um trabalho nessa área, porque ganha legitimamente uma aposentadoria como ex-governador do Estado, e ganha, como ganham também o Dr. Sinval Guazelli, o Dr. Leonel Brizola, o Dr. Alceu Collares, porque fizeram jus a essa condição. É algo que o legislador entendeu colocar em vigor até para preservar os governantes, que ficam quatro anos, dirigindo os destinos de um estado, para que, uma vez saindo dessa posição, não tenha que se valer de outros métodos para sua sobrevivência, senão o socorro dado pelo erário público, que tem que dar para aqueles que, de quatro em quatro anos um em milhões de riograndenses assume o Governo do Estado. V. Exa., que evidentemente é um homem inteligente, ao colocar essa gama de assuntos incluiu esse, e acertou na mosca em tantos outros, que eu não quis deixar passar “in alvis” essa colocação, na medida em que sou eleitor do Dr. Jair Soares, tenho a maior admiração por ele, quero vê-lo candidato a Prefeito de Porto Alegre, quero que ele tenha meu amigo Luiz Negrinho junto dele numa nominata, e nós dois, eu e o Ver. Luiz Negrinho, temos feito um trabalho muito forte para criar um fato novo na política de Porto Alegre e com isso acabar com esse quadro de contradições, que V. Exa. assinalou aqui.

Como V. Exa., quando vem aqui, tira essa casquinha em cima do nosso Deputado, esse homem para quem temos trabalhado para ser nosso candidato a Prefeito, fico satisfeito, Vereador, porque ninguém atira pedra em árvore que não tem fruto. Desde o momento em que uma pesquisa foi divulgada e que apresenta o Dr. Jair com amplas possibilidades de chegar ao segundo-turno junto com o candidato do PT, e no segundo-turno V. Exa. vai nos ajudar a derrotar o candidato do PT, e vai fazer com que o Dr. Jair seja o Prefeito e o Ver. Luiz Negrinho o vice. Quando isso acontecer V. Exa. estará do nosso lado e por isso é que as coisas começam tomar outro sentido, já começam a atirar algumas pedrinhas no nosso terreno. Nós saudamos o seu pronunciamento, queremos que essa metralhadora giratória permaneça o ano todo, porque efetivamente nós temos que acabar com essas falsas verdades que dizem que Porto Alegre é russa, que o PT vai fazer o seu mandado aqui, com a eleição de Raul Pont, Prefeito da Cidade. Coisa que nós, V. Exa., com o Dep. Valdir Fraga, nós com a candidatura, que afinal acertaram na nossa coligação, haveremos de impedir e com certeza conseguiremos. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador).

 

O SR. PRESIDENTE: Não havendo quórum, encerramos os trabalhos e convocamos os Srs. Vereadores para a próxima quarta-feira à hora regimental.

 

(Encerra-se a Reunião às 11h06min).

 

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